quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Save Him, Father; Dante Camparo


 
Telões nas cidades anunciam as pílulas
Ergam seus copos e suas vesículas
Pois todos os santos vêm nos visitar
Quando abertas forem as matrículas
 
As vagas para imbecil do ano estão abertas
E saberemos então se as cotas estão corretas
Quando o brasileiro idiota e falido enfim comparecer
Para oferecer e cumprir tudo exigido nas metas
 
Pois eu percebi que o governo quer a alma
E para isso tirarão toda a nossa calma
Alienando e atrofiando cérebros no útero
Para quando crescerem os terem na mão, os terem na palma

Microcefalia e educação sexual viram brincadeira
Seriam nossos herdeiros dignos de tal bandeira?
Já que cinquenta valerá um
Centavos não passarão de terra na peneira
 
Fetos enriquecidos pelo formol
Sofrimento convertido em aerosol
Não podemos chorar nem sorrir
Cegos pela refinaria do Sol

Quantas crianças morrem à revelia?
Quantos policiais fazem o que você não faria?
Só para um riquinho enrolar um baseado
E falar da viagem mais louca do dia

 Por que você não engole o cachimbo e engasga?
Entala, sufoca, expira e afaga?
Você sabe que isso está lhe matando
E legalizar causaria pena a tua chaga
 
Mas sem violência que sou pacifista
Falta igualdade em qualquer pista
Seja o homem na guerra, a mulher na casa
Cada imparcialidade tem seu ponto de vista

 Mas não importa se o assunto é aborto
Maconha e tirania são barcos no porto
O brasileiro é idiota o suficiente
Já que bandido bom é bandido morto
 
O governo continua a manipular
E você é mais um a se calar
Enquanto tivermos a classe do 13
Saberemos contra quem devemos lutar

"É comunista fodendo o país
É um puto corrupto que não sabe o que diz
Mas tem estádio novo pra imbecil torcer
Mais noventa mil pra de balar morrer"

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Um Passeio no Subconsciente; por J. F. Lisboa


Vens me visitar nesta madrugada?
Lyubov', há tempos eu não acredito
Teu toque foi odisseia incontestada
Mas ao velar dos mortos, desabito
Quando puderes não desagrada
O momento de solucionar o meu conflito
 
Tonta e célebre, da smert' veloz arquejo
Já não se encontram os cânones brasis
Como louco, a zhizn' também almejo
Para o término de meus pecados tão vis
Há décadas não lhes confio um cortejo
De devassos arrependimentos sou feliz
 
Das crises sou um rebelde enamorado
Ciente sou dos meus pecados nesse mundo
Não procuro o perdão em álcool destilado
Não trago todo meu vício tão fundo
A gnev me encontrou um dia despedaçado
 E limpou um coração que chorava imundo

Mas a strast' casta viu-me em mesmo dia
E junto a ela havia um presente derradeiro
Ergo! Pois não sabia o saber da revelia
Que apresentava-me de mãos dadas, um coveiro
Um conhecido santo da afeição e da histeria
Contou-me a história de um bebum guerreiro

Era cigano calculista e minha palma leu
Sorriu, sem entender onde errou
Sussurrei que em mãos de escritores como eu
Não há uma só palavra que ainda não chorou
Ele mostrou que não foi o escritor que escreveu
A mentira com a primeira palavra que amou

As linhas tortas da minha palma são apagadas
Mas diziam que eu encontraria mais uma vez
Minha vida era feita de uma péssima jornada
E o meu coração de infinitos "por quês"
Mas a profecia cumpriu-se em hora errada
Na boca, só restou escapar lúgubre um talvez

O cigano disse que na alma está um poeta
Nas mãos um esforço que beira ao talento
Não adiantaria fugir do baile ou da festa
As máscaras derreterão ao vento
Até na cova um coração partido desperta
Até no altar pode-se destruir um casamento

"Eu caminhei pelos espinhos dessa mente nefasta
E foi no centro agonizante da sua imaginação
Que eu descobri o segredo de querubins da sua casta
Disseram-te que amar é uma eterna maldição
Mas é uma mentira vergonhosa que lhe afasta
Do verdadeiro poder que há em seu coração

Apesar de não encontrar muita alegria
Vi a centelha divina na estrela mais alta do inconsciente
Os corações batem opostos, fora de sincronia
Eu li suas cicatrizes e parecia confessar algo diferente
Não pude saber o que era, mas entendia
O sentido da sua vida é encontrar seu eu inconsequente

Pois apesar de amar os outros como um leão
Você só se completa consigo unido
Isso não é um defeito, mas também é punição
Vou lembrar-lhe pois talvez tenha esquecido
Há mentira e angustia nesse terrível furacão
E você jamais poderá ver-se livre ou absolvido"

Você consegue ouvir os lobos cantando?
Seus uivos estão em uníssono demoníaco
Fornicação e Miséria foi como Deus os esteve nomeando
Defuntos rastejam babando podre amoníaco
O hino que essa legião vem há séculos entoando
Chama-se Tribulações, um juramento genesíaco

O momento de solucionar o meu conflito
Quando puderes não desagrada
Mas ao velar dos mortos, desabito
Teu toque foi odisseia incontestada
Lyubov', há tempos eu não acredito
Vens me visitar nesta madrugada?
 
O que sinto transborda o meu peito
Minha mente confusa transcende o amar
Lutar deveria eu para ser aceito?
Ou os meus olhos só poderão observar?
O amor por ela mancha meu leito
Tenho medo de novamente amar

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Padroeiro da Negação; por Dante Camparo

 
 
Quando vale a pena morrer?
Pelo que vale a pena lutar?
Qual lado deve prevalecer?
Qual emoção deverá se ocultar?
 
Ficaste, tu, próximo demais do fogo
Semelhante a um infante mentiroso
Buscando algum perdão nas regras do jogo
Fugindo no deserto tenebroso
 
É a vida imitando a mim
Ou é a raiva imitando a vida?
Anuncia-se o amor pelo fim
Vive no subúrbio a geração descrida

Nascido em democracia, cresci no inferno
Outra criança vendada, apenas outra cria
O último a nascer, o primeiro a fugir do inverno
Minha cidade faliu pelo petróleo de refinaria
 
Apenas um adolescente assassinando por diversão
Recém chegado ao clube, com as mãos sujas
O residente líder de uma colossal nação
Os perdidos e achados nos olhos de mil corujas
 
Sangue nos dedos e um pacote de dopagem
Um filho da puta com o Gregório de Matos
O rejeitado pelos rejeitados, fina coragem
Antes dos argumentos, virão sempre os fatos
 
O sol arde em fúria jamais tão cedo
Nós somos os idiotas nunca perdoados
Produtos genéticos da guerra e do medo
Pelos quais todos nós fomos vitimados
 
Uma salva de tiros aos heróis da alvorada
Quantas batalhas serão necessárias?
Uma salva de palmas aos artistas da madrugada
Quantas comédias nunca serão hilárias?
 
Até que coloquem um plaqueta de identificação
No pescoço do homem que saiu e voltou para seu lar
Muitas vidas serão perdidas em trincheiras, em vão
E muitos herdeiros crescerão órfãos, sem um dia sonhar

sábado, 29 de agosto de 2015

Extra Oficial: California's Boy

Já faz muito tempo desde que escrevi um texto para esse blog, e mais ainda que falasse de amor. Que saco! Que merda! Essa porra não existe, se você pensou que seria algo otimista, dizendo que haverá o único e verdadeiro amor, não é! É simples, você nasceu sozinho e vai morrer sozinho, e não há nada que você nem ninguém possa fazer para mudar isso. Apenas entenda e lide com essa pequena regra da vida. O amor não existe, foi apenas uma história de terror contada para as crianças malvadas, uma ilusão. Quanto mais você acredita, mais chance você tem de se decepcionar.
É engraçado, realmente seria cômico se não fosse trágico, mas é o que eu tenho para hoje. Havia um garoto aí qualquer, que ama tudo o que faz como se fosse sempre a primeira vez, ele mora numa cidadezinha litorânea, onde o Sol nasce primeiro; um garoto de olhos felinos, cabelos negros, ele está sempre em todos os lugares, observando tudo, calado, mas que infelicidade!, porque geralmente é seu coração que vive a gritar. Seu nome é Velho, e o sobrenome é Escritor, mas é tão jovem... As aparências enganam, os rumos se perdem. Ele tem seus escritos surrados, seus copos virados, seus maços amassados, suas paixões perdidas, seu âmago descontrolado e seu coração ferido. Ele é vendado pelo som de outros milhões de corações quebrados. Um coração reciclado, mas nunca salvo.
Este ano foi um ano esdrúxulo e discrepante, teve suas virtudes, mas foi repleto de desgraças. Seu primeiro concerto acabou há uns cinco meses, e atualmente não há saudades nenhuma dele nem do instrumento. O longo período que passou inerte deixaram fundas marcas e fulminantes lembranças, apesar de ter sido demorado e dolorido enfim terminou, porém a verdade é que há uma nostalgia dele, foi uma época de malucas buscas por melodias mais poderosas e poéticas, onde havia tristeza, angustia, melancolia e poesia nas coisas ao redor, nas simples coisas do dia-a-dia, houveram descobertas nunca antes experimentadas, produziu frenético, como uma forma de terapia, para esvaziar-se do tudo e encher-se com nada, expor a dor, expor todas as feridas. Leu, releu, escreveu, passou muito tempo sem compor, quebrado, enquanto amadurecia a visão, analisou o acervo de derrotas e compreendeu o que deixou para trás.
Não importa o tempo, aproveite agora
Por que uma hora vai acabar
Concertos, no mundo inteiro, acabam todos os dias
Não é o seu que vai prosperar
Nós fomos todos criados para sabermos a hora de morrer e o tempo de viver, a ingenuidade nos faz puros, a tolice nos faz cegos, nós não somos os herdeiros do amanhã, somos apenas mais outros injuriados, rejeitados e abandonados pela mente e pelo poder da compaixão, mas nós não precisamos do amor para encontrar a felicidade, nossas vidas são apenas nossas e não há porque entrega-las nas mãos de um estranho exigindo uma melhora, esse tipo de desespero estraga tudo. Merda! O amor não existe, o que existe é apenas um coração que bate dentro de uma gaiola. 
O garoto litorâneo é um sonhador, um cálido fornicador, mas um romântico está longe de ser, e um concerto ainda não é o seu lugar. Depois que passou, só restou a perdição e perda da motivação, todos os seus planos quando revisados perdem a graça, some a vontade de realiza-los, quando estava no fundo do poço não faltavam-lhe motivos para correr atrás e fazer acontecer. Tudo agora são risos e zombaria, a desconfiança tomou o lugar da paixão. As músicas não são mais significativas como antes, as pinturas e desenhos têm se tornado cada vez mais difíceis de serem concretizados, as histórias não são mais interessantes de se ler e as suas prosas estão mais rabugentas. Falta-lhes a beleza da depressão.
O único problema é que não podemos chorar para sempre.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Elegia do Império; por Dante Camparo

Daniel Radcliffe/Allen Ginsberg - Versos de um Crime

(O que eu era para você?)
 
Korol' Cristóvão morreu nessa madrugada
Ele borbulhou seu crânio no papel
Na fornalha ouviu-se uma gargalhada
Choveu sangue do céu
 
Dezessete anos e fugiu de casa
De manhã, as sete horas da semana errada
Enfiou na mochila uns poemas pra citar
Deixou para trás os pais e a namorada
 
Amar é endividar-se
Com mil e uma drogas
É oferecer a outra face
Num teatro de sinagogas
 
Entorpecentes sem essência
Terapia para miseráveis
A ânsia análoga a decadência
De vastos santos incontestáveis

 Há mil maneiras de vencer uma batalha
Há mil escolhas para se desfrutar
Há mil estilos de se usar uma navalha
Há apenas um para se retratar
 
E agora eu estou afônico
Porque meu amor não foi suficiente
Num relacionamento anacrônico
Não fora plantada uma só semente
 
Não bastou eu amar demais
Para entender a transtornada verdade
Tive que abrir mão de minha paz
Para descobrir o que é saudade
 
(Eu nunca amei você.)
 
Então eu desejei que morresse
Eu ergui-me do meu ataúde
E antes que eu me enfurecesse
Preservei minha saúde
 
Deixei toda aquela imundice para o passado
Fugi da minha terra, abandonei a vadia
Deixei meu erro, no caminho, retratado
Escrevi minha primeira e última elegia
 
Foda-se este território subterrâneo
Foda-se a princesa de tantos pesadelos
Não terei mais nenhum desejo errôneo
Sangue escorreu pelos meus cabelos
 
Então, eu vivo! Vício, virtude, vivo!
Eu não acredito! Não me retrato! Não me importo!
Eu vou em busca de um futuro alternativo,
Onde jamais estarei novamente absorto!

Oh, prometida, você está me ouvindo?
Lutar e não sofrer
Em tragédia, permanecer sorrindo
Fugir daqui, chance de sobreviver
 
Deus olha toda essa bagunça lá em cima
Nas estrelas de uma velha constelação
Todos os loucos param nessa estação
Buscando a quase tão perfeita rima.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Geração Zero; por Dante Camparo

 
 
Todos os nossos companheiros
Riem de nós pelas costas
Enquanto éramos bons marinheiros
As rosas do mar não estavam mortas
 
Todos aqueles que fingimos gostar
Cada um que amamos, nós abandonamos
E não há motivo para querer voltar
Este é o caminho que sozinhos trilhamos
 
Estamos cegos pelo prazer
O silêncio nos ensurdeceu
Quantos corações deixaram de bater?
Uma mente já esqueceu
 
Somos os bastardos e retardados
Desse admirável mundo justo
Somos os corações quebrados
De um sistema que valoriza o custo
 
Deixamos transparecer demais nossa insônia
Nos rendemos aos efeitos da narcolepsia
Permaneceremos nessa tremenda amnésia
Até que ela evolua para esquizofrenia
 
Onde estamos de fato?
O que fizemos realmente?
Qual livro terá nosso relato?
Poderei dizer que sou valente?
 
Somos apenas idiotas
Palhaços demagogos e sonhadores
E até que tomemos nota
Estaremos sufocados por nossos temores.

(Nós não precisamos dessa educação!
Nós somos a minoria!
Não queremos essa hipocrisia!
Não precisamos do seu perdão!)
 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Anomalia de Maré; por J. F. Lisboa


 
Meus gritos estão estridentes
Misturados com profundos resfôlegos
Eles escapam pelos meus trincados dentes
E soam como ardentes suspiros sôfregos
 
Meu espírito está desgovernado
Minha cabeça vive perturbada
Entrei em um trem descarrilhado
Infiltrado no inferno, perdi a parada
 
Apostei minha vida em você
Tudo que toco torna-se ouro
Onde meus demônios irão se esconder?
Em minhas veias só há agouro
 
Assim como a minha família esquecida
Dez anos se vão tão depressa
Eu estou retornando a minha casa perdida
O bom filho ao lar regressa
 
Aqui é onde meu coração sempre esteve
E, apesar, de ter agido como um carrasco
Ele foi o único que me manteve
Quando todos sentiam asco
 
Nada aproveitei de minha vida
Acreditando em contos de fada
Por mais longa que seja a ida
Breve é a volta, mas conturbada.